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Os Heterónimos da Peçonha

Os Heterónimos da Peçonha

26
Jul24

«Contra a Amazon» de Jorge Carrión

rltinha

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Um autor que diz ser contra a Amazon, mas defende o modelo de livraria em que se cobra uma entrada aos clientes e que estima distâncias urbanas em minutos de Uber. O que o aflige, contrariamente ao que o título escolhido para esta colectânea de textos possa sugerir, não são os malefícios do capitalismo. Afinal, é graças ao capitalismo e às suas iniquidades e práticas encantadoras que o autor pode circular pelo mundo, em viagens ultra poluentes e extremamente baratas graças às abébias dadas pelos governos às transportadoras aéreas, para cumprir esse desígnio honroso e nada narcísico que é visitar lojas (livrarias) e relatar essas visitas.
O problema contra a Amazon é que lhe dá cabo das lojas que gosta de visitar, porque pratica preços impossíveis para essas livrarias. Claro que não oferece uma só reflexão sobre o facto de, para os mais pobres (aqueles que não são bem vindos nas livrarias, pelo menos segundo a minha experiência pessoal) os «preços da Amazon» até representarem uma possibilidade mais alargada de acesso ao livro.
Se as viagens e leituras em barda fossem realmente o meio de crescimento interior e alargamento de vistas de que tanto se fala, certamente que o autor poderia ter oferecido algumas reflexões sobre os muitos milhões em impostos não cobrados que permitem que as viagens de avião possam ser baratas, mas não haja qualquer empenho dos governos em co-financiarem os livros, pelo menos os havidos como canónicos, ou dispensarem cobranças/garantirem apoios destinados a diminuir o preço dos livros. Seria certamente mais pertinente do que massagens de ego sobre como é um leitor extraordinário ou relatos de encantamentos matarruanos que se julgam muito cosmopolitas.

13
Jun23

Das leituras no passado recente («Os Livros da Minha Vida» de Maria Filomena Mónica)

rltinha

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Ler textos pessoais, sobretudo os que relatam percursos de vida das personalidades públicas eruditas, requer distanciamento emocional e nenhuma consciência de classe. Só assim se aligeira a irritação gerada pela empáfia do privilégio nas suas ramagens plúrimas.
Enquanto ao leitor vai sendo enunciada uma vasta lista de títulos (cuja edição é demasiado possidónia para traduzir até nas frequentes vezes em que existe tradução portuguesa das obras) recebe também o mesmo leitor o testemunho de uma autora que tem a Inglaterra como A nação superior, a qual lhe deu o que de melhor que existe em termos culturais, não se poupando à exaltação da liberdade que a liberachada tanto gaba (sem considerar as demais condições para existência da «liberdade a sério»), lamentando os malefícios do politicamente correcto, sublinhando que a Amazon muito fez por todos nós («e o seu contributo é enorme» [sic]) enquanto se afirma «de esquerda».
Num tempo de imposição (pelos próprios a terceiros) pelo que se afirma e não pelo que se faz/se é, aceitemos como «de esquerda» quem, com fascínio confesso por uma monarquia (no século XXI) entregue à selvajaria das políticas neocoisas, se diz de esquerda.
E bata-se punho a traduzir dezenas de títulos que nem autora nem revisor se dignaram a traduzir.

24
Jan23

Dos destaques entre as leituras correntes

rltinha

A Edições 70, cujo catálogo é organizado com o fito de me causar insolvência pessoal, lançou este mês o «Crónicas de um Livreiro» de Martin Latham. Contrariando a prática tsundoku que é meu lema de vida, comecei a lê-lo assim que o recebi. E é ainda melhor do que esperava (pelo menos até ao ponto em que vai a minha leitura). Pejado de factóides literários e bem estruturado, tem passagens como esta que aqui partilho:

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Li-a e lembrei-me imediatamente disto:

É uma pena que esta editora guarde maior excitação na partilha de uma recomendação do título por Ricardo Araújo Pereira (é toda uma moda no Instagram: as editoras em picos de pés com alguma recomendação de títulos seus por um paineleiro da TV) do que no controlo da qualidade das suas traduções e revisões. 

Por exemplo: «A Angústia da Influência - Uma teoria da poesia» de Harold Bloom tem todas as citações de obras em língua inglesa… em inglês! Quem quiser que traduza Shakespeare e outros autores tão fáceis de ler no original. Ao incauto leitor apenas é dada a tradução do texto do próprio Bloom. O tradutor, estrela nos circuitos literários, não quis a trabalheira de ir à cata das traduções das obras citadas, e o revisor assobiou para o lado. O resultado é um livro cuja ficha técnica refere «Idioma: Português», mas com uma considerável porção em inglês.

Claro que o catálogo da Edições 70 é uma maravilha e o meu dinheiro (e de alguns dos meus amigos, já que o «Crónicas de um Livreiro» me foi ofertado)  continuará a dar sustento ao pelo leitor melhor descrito supra.

20
Jan23

Das adições ao acervo livresco doméstico (Martin Latham)

rltinha

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Chegou hoje e já o comecei a ler porque o meu aferventamento leitor era extremamente elevado, a vida é curta, e também porque «sou adulta, posso».

As Edições 70, cujo catálogo vem sendo organizado no sentido de me causar insolvência pessoal, desta vez não levaram o meu guito porque a Rute se me adiantou e voltou ao ataque ofertante.

E quem bem soube receber uma prenda tão desejada!

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