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Os Heterónimos da Peçonha

Os Heterónimos da Peçonha

08
Fev23

Das leituras no passado recente («Eu, Assassino»)

rltinha

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Talvez o objectivo fosse uma personagem principal sofisticada, além dos espartilhos do catálogo vigente e dominado pelos comuns mortais, com uma ética somente ao alcance de uma vanguarda presumida como alheia ao leitor típico. O resultado, porém, é uma azeiteirice tentando dar um passo maior do que a perna, sem nada de novo ou original. «Demasiada agitação para disfarçar a falta de ideias.»

A unção colectiva em torno disto é fenómeno para lá da minha compreensão. Talvez o polvilhanço com referências artísticas e a colocação de parte da acção na academia hajam sacado aos leitores uma presunção de valor estético e narrativo que uma alma bruta como a minha falhou em encontrar. Ou então a rusticidade do meu intelecto lavou dos meus olhos as ramelas que emprestam brilho ao que é baço como madeira tosca.

O trabalho gráfico é notável: está à altura do argumento com os seus vulgarismos formulaicos travestidos de «fora da caixa».

15
Jan23

Das leituras no passado recente

rltinha

O ano de leituras foi aberto com o «Karmen» de Guillem March e com o vol. 4 de «The Far Side® Gallery 4». Mas o marco leitor desta pobre (em números) quinzena foi «O Cemitério de Praga» de Umberto Eco.

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Que o senhor Eco era um fã de conspirações, portador de uma ironia infinita para com todo o tipo de mistificações, já se sabia. Mas «O Cemitério de Praga» é a materialização de uma soberba caixa de areia para brincadeiras infinitas com esta sua matéria de eleição. Nada ali deixa de ser utilizado para a pura diversão do escritor. O leitor que se segure, que escreva notas, ou que se deixe ir (recomenda-se esta terceira opção). Eco não acumulou milhares (lendo uma quantidade assinalável) de livros para depois não se divertir tanto quanto podia a parodiar plúrimas conspirações e mitos, e ainda a usar tropos narrativos nessa celebração lúdica do que é contar uma história.
Este livro terá como pecado maior a intensidade e a insistência. É que nem todos os dias se está com vontade de ler narradores tudo menos fiáveis, desprezíveis e vis até ao tutano, ainda que sabendo-os caricaturas de modelos dignos destas adjectivações. Sim, o anti-semitismo e a misoginia tal como manifestados pelos narradores são hilariantes. Mas é factual que neste livro se tem que ler muito discurso anti-semita e misógino. Talvez demasiado.

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À pergunta «seria feliz a comer apenas bolo de chocolate o resto da minha vida» aprendi com «The Far Side® Gallery 4» que a resposta é não. No termo de um jornal diário um painel assenta muito bem. Muitos compilados num livro são puro enfado.

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A arte de «Karmen» é superior ao argumento, ainda que viva à boleia de opções fáceis para chocar. Mas a paleta é sublime. Coisa que o argumento fica a parsecs de alcançar. 
Falhas de comunicação, isolamento social, e a enésima historieta de um limbo entre a vida e a morte de uma personagem em provação.


Adolescência tardia num bildungsroman de netflix para as massas. Só que com aura de culto. Vá-se lá saber porquê.

 

26
Out22

Das bitaitadas gráficas 2

rltinha

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Num mundo medieval não concretamente identificado, mas em que a condição das mulheres, dos homens, e do clero em tudo se assemelha aos reinos medievais, um casamento ajustado pelas respectivas famílias unirá a Bianca a Giovanni.
Antes e depois dele, porém, Bianca vestirá uma mágica pele de homem que há gerações é passada e usada entre as mulheres da sua família, dentro da qual estas puderam circular pelo mundo enquanto homens.
A pele é o mecanismo pelo qual flui toda uma experiência de privilégio, liberdade, e possibilidade que para as mulheres é tão vedada que não a imaginariam. Encontra eco em páginas fluídas, de painel único, pelo qual deambulam as personagens, em pictorizações entre o fabulesco e o imediatamente gracioso. Sem moralismos excessivos, este é um enredo de desmontagem de estereótipos, de indagação sobre «a tradição», de soluções práticas para problemas complexos, mas com a virtude de não pregar coisa alguma.

08
Fev22

Das leituras à pála da cooperativa

rltinha

Movidas pelo amor à nona arte e pelos encantos do colectivismo, quatro alminhas conjugaram esforços e erigiram uma belíssima cooperativa cujo objecto é ler a vulgarmente conhecida como Banda Desenhada. Estes foram os primeiros títulos que li à conta da cooperativa, e aqui partilho os respectivos bitaitanços.

 

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«Dylan Dog: O Velho que Lê» (Fabio Celoni, Angelo Stano)

A arte de Fábio Celoni, só por si, já valia a pena. Mas neste noir fantástico-literário notavelmente bem narrado, gera sucessivas páginas a comprovar a máxima de William Kuskin: «The page is a poem» .
Como complemento há o mini episódio «A Pequena Biblioteca de Babel» inspirado na obra de Borges, um complemento jeitoso para este volume. 

 

«Um Cowboy no Negócio do Algodão» (Achdé, Jul)

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Um jeitosíssimo desvio do cowboy solitário pelo(a) Luisiana, com os deliciosos Dalton no seu encalço, o marshall Bass Reeves à cata dos Dalton, e os estercos ensacados sob a forma de KKK a praticar os crimes necessários para se sentirem os maiores de sua rua.
E é aqui que entra a pedagogia de modo lúdico para pequenitos e mais graúdos, expondo o racismo naquilo que é: violência pela cor da pele.
Um repasto sequencial à altura daquele com que no epílogo são agraciados os crocodilos, mas de muito melhor digestão.

19
Dez21

Das bitaitadas gráficas

rltinha

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(«Batman: Noël» de Lee Bermejo, DC Comics, 2011)

Também sob a temática natalícia, mas sem calendarizações diárias, li esta belíssima adaptação de «Um Conto de Natal» de Charles Dickens que, não obstante pegar numa narrativa mais que conhecida, faz dela uma fábula de Natal original e cativante.

Lee Bermejo faz um trabalho notável e a coloração não lhe fica atrás. Quanto ao lettering é que não acompanho as opiniões favoráveis. Eu sou míope, estou-me tão nas tintas para as belezas como a minha visão para o que fica mais distante, se a legibilidade for afectada o trabalho é mau. 

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