Das leituras no passado recente («A Trilogia de Copenhaga» de Tove Ditlevsen)
Numa escrita enxuta e sintética, habitada de imagens de um impressionismo improvável, é narrada a vida de Tove Ditlevsen, ficando a realidade numa outra dimensão.
O ritmo e a progressão são simultaneamente relato e demonstração de uma existência que parece acontecer à narradora, num determinismo participado.
Antes de ser moda ou solução editar em barda e sem esforços maiores um conjunto de vivências pior ou melhor embonecados, Ditlevsen expôs-se enquanto escritora e toxicodependente, sem autocomiseração. Sem artifícios ou exploração dos outros para ganhos próprios.
Por fim, há o nada despiciendo aspecto de se tratar de uma mulher, de toda a sua existência ser irremediavelmente cerceada por tal condição, ostentando-a com a mesma naturalidade com que não adensa as múltiplas iniquidades do tratamento que recebe, mas sem fingir que essa sua condição - a de mulher - não foi determinante em tudo quanto lhe sucedeu.