Das leituras no passado recente («Os Ignorantes» de Étienne Davodeau)
Dois amigos têm carreiras distintas. Um é produtor de vinho, e o outro de arte sequencial (especialmente argumentos). Este último achou que tinha aqui óptimo material para uma novela gráfica, e por isso abundam os paralelismos forçados entre os dois ofícios, lembrando aquelas entrevistas em que os actores que dão voz a um animal real ou imaginário falam de como tiveram que explorar o «esquilo-das-pampas/crocodilo floclórico/dragão do Alto Minho» que havia algures no mapeamento da sua alma.
Talvez não suportar, sequer, o cheiro do vinho haja minorado a minha boa vontade leitora, mas ainda pior do que isso é o asco que tenho a cenas de «A conhece B, cuja fama aproveita para dar visibilidade ao que faz». E também nisso abunda esta obra, sempre muito humilde e autêntica, só que sem abdicar destes «cameos» que por acaso têm o condão de amaciar o público-alvo.
Uma leitura tão boa como um copo de vinho.