«A Zona de Desconforto» de Jonathan Franzen
Para pessoa que se ri das próprias piadas, na vã esperança de arrancar gargalhadas no momento em que acha que teve piada (e não quando tem piada involuntariamente), Jonathan Franzen arriscou bastante com estes ensaios.
Se é verdade que ego é coisa que não lhe falta, faria algum sentido que a sua compulsão para ser admirado o levasse a não publicar certas coisas. Sobretudo trechos em que transparecem certos defeitos de carácter que permaneceram geneticamente similares ao longo das décadas, ainda que sofrendo as mutações emergentes da formação de uma identidade. (E não é assim com a generalidade dos seres humanos?)
Para quem lhe conheça a obra ficcional, estes ensaios terão um interesse particular. Revelam que o autor é dotado de uma notável habilidade para remisturar e rapinar que, com o passar do tempo, se tornou mais preguiçosa e imediata nas fontes, mas da qual vem extraindo uma obra cuidadosamente burilada.
Também é giro ver como o tiro no pé «Purity» emergiu de experiências mais superficialmente avaliadas pelo Franzen e o retorno aos bons romances que foi «Crossroads» se deve à revisitação de um período seminal na vida do autor.
Porém, na qualidade de pessoa que prefere não saber como se fazem os efeitos especiais no cinema, preferia atribuir os bons trechos narrativos ficcionais a pesquisa saturada e génio criativo do que à capacidade para apropriar e remisturar.