«Quartet in Autumn» de Barbara Pym
A vida não tratou bem a Barbara Pym e só por um rasgo de sorte, após tremendo azar (editores interessados em vender recusaram publicar-lhe livros durante vários anos e só um inesperado artigo de jornal mudou as vontades), é que a senhora Pym chegou a ver publicado este «Quartet in Autumn».
Claro que a impossibilidade de publicar não a impediu de escrever. E isso nota-se na escrita, que contém o travo da rica ironia, mas está aqui orientada para dar conta de quatro solidões (sexagenárias ou lá próximas) que partilham um local de trabalho.
Doença física e mental, pobreza e isolamento, aburguesamento dos meios urbanos com expulsão ou sujeição a condições precárias dos que menos têm, sem dramas nem espectáculos, numa escrita enxuta e directa que não cai em simplismos ou explicações insultuosas para a inteligência do leitor.
É nestas três vertentes que Pym se diferencia das muito badaladas «literaturas no feminino» que por aí têm tanto sucesso: não presume a burrice dos leitores, nada é sobre a autora ser mesmo super virtuosa e/ou ter feito imensa pesquisa para encher chouriços de páginas supérfluas, serve-se daquilo a que James Salter chamava «raw material of life» sem quase sair da sua paróquia, e isso nunca a diminui.