Das leituras no passado recente («Os Livros da Minha Vida» de Maria Filomena Mónica)
Ler textos pessoais, sobretudo os que relatam percursos de vida das personalidades públicas eruditas, requer distanciamento emocional e nenhuma consciência de classe. Só assim se aligeira a irritação gerada pela empáfia do privilégio nas suas ramagens plúrimas.
Enquanto ao leitor vai sendo enunciada uma vasta lista de títulos (cuja edição é demasiado possidónia para traduzir até nas frequentes vezes em que existe tradução portuguesa das obras) recebe também o mesmo leitor o testemunho de uma autora que tem a Inglaterra como A nação superior, a qual lhe deu o que de melhor que existe em termos culturais, não se poupando à exaltação da liberdade que a liberachada tanto gaba (sem considerar as demais condições para existência da «liberdade a sério»), lamentando os malefícios do politicamente correcto, sublinhando que a Amazon muito fez por todos nós («e o seu contributo é enorme» [sic]) enquanto se afirma «de esquerda».
Num tempo de imposição (pelos próprios a terceiros) pelo que se afirma e não pelo que se faz/se é, aceitemos como «de esquerda» quem, com fascínio confesso por uma monarquia (no século XXI) entregue à selvajaria das políticas neocoisas, se diz de esquerda.
E bata-se punho a traduzir dezenas de títulos que nem autora nem revisor se dignaram a traduzir.